quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Ruben Alves – “Aprendo porque Amo”


“Aprendo porque Amo”

Recordo a Adélia: “Não quero faca nem queijo; quero é fome.” Se estou com fome e gosto de queijo eu como queijo… Mas, e se eu não gostar de queijo? Procuro outra coisa de que goste: banana, pão com manteiga, chocolate… Mas as coisas mudam de figura se minha namorada for mineira, gostar de queijo e for de opinião que gostar de queijo é uma questão de caráter. Aí, por amor à minha namorada, eu trato de aprender a gostar de queijo. Me lembro do filme Assédio sexual. A estória se passa numa cidade do norte da Itália ou da Suíça. Um pianista vivia sozinho numa casa imensa que havia recebido como herança. Ele nem conseguia cuidar da casa sozinho e nem tinha dinheiro para pagar uma faxineira. Aí ele propôs uma troca: ofereceu moradia para quem se dispusesse a fazer os serviços de limpeza. Apresentou-se uma jovem negra, recém-vinda da África, estudante de medicina. Linda! A jovem fazia medicina ocidental com a cabeça mas o seu coração estava na música da sua terra, os atabaques, o ritmo, a dança. Enquanto varria e limpava sofria ouvindo o pianista tocando uma música horrível: Bach, Brahms, Debussy… Aconteceu que o pianista se apaixonou por ela. Mas ela não quis saber de namoro, achou que se tratava de assédio sexual e despachou o pianista falando sobre o horror da música que ele tocava.. O pobre pianista, humilhado, recolheu-se à sua desilusão mas… uma grande transformação aconteceu: ele começou a frequentar os lugares onde se tocava música africana. Até que aquela música diferente entrou no seu corpo e deslizou para os seus dedos. E, de repente, a jovem de vassoura na mão começou a ouvir uma música diferente, música que mexia com o seu corpo e suas memórias… E foi assim que se iniciou uma estória de amor atravessado: ele, por causa do seu amor pela jovem, aprendendo a amar uma música de que nunca gostara, e a jovem, por causa do seu amor pela música africana, aprendendo a amar o pianista que não amara. Sabedoria da psicanálise: frequentemente a gente aprende a gostar de queijo através do amor pela namorada que gosta de queijo…

Isso me remete a uma inesquecível experiência infantil. Eu estava no primeiro ano do Grupo. A professora era a dona Clotilde. Pois ela fazia o seguinte: assentava-se numa cadeira bem no meio da sala, num lugar onde todos a veriam, acho que fazia de propósito, por maldade, desabotoava a blusa até o estômago, enfiava a mão dentro dela e puxava para fora um seio lindo, liso, branco, aquele mamilo atrevido… E nós, meninos, de boca aberta… Mas isso durava não mais que cinco segundos porque ela logo pegava o nenezinho e o punha para mamar. E lá ficávamos nós, sentindo coisas estranhas que não entendíamos: o corpo sabe coisas que a cabeça não sabe. Terminada a aula os meninos faziam fila junto à Da. Clotilde, pedindo para carregar a pasta. Quem recebia a pasta era um felizardo, invejado. Como diz o velho ditado, “quem não tem seio carrega pasta…” Mas tem mais: o pai da Da. Clotilde era dono de um botequim onde se vendia um doce chamado “mata-fome”, de que nunca gostei. Mas eu comprava um mata-fome e ia para casa comendo o mata-fome bem devagarzinho… Poeticamente trata-se de uma metonímia: o “mata-fome” era o seio da Da. Clotilde…

Ridendo dicere severum: rindo, dizer as coisas sérias… Pois rindo estou dizendo que frequentemente se aprende uma coisa de que não se gosta por se gostar da pessoa que a ensina. E isso porque – lição da psicanálise e da poesia – o amor faz a magia de ligar coisas separadas, até mesmo contraditórias. Pois a gente não guarda e agrada uma coisa que pertenceu à pessoa amada? Mas a “coisa” não é a pessoa amada! É sim!, dizem poesia, psicanálise e magia: a “coisa” ficou contagiada com a aura da pessoa amada. Minha avó guardava uns bichinhos que haviam pertencido a um filho que morrera. Guardo um peso de papel, de vidro, que pertenceu ao meu pai. E os apaixonados guardam uma peça de roupa da pessoa amada, e a colocam sobre o travesseiro, ao dormir… Mesmo depois dela ter morrido. É como se, através daquela “coisa” que não é a pessoa amada fosse possível tocar e acariciar a pessoa amada, ausente.

Pois o mesmo mecanismo acontece na educação. Quando se admira um mestre, o coração dá ordens à inteligência para aprender as coisas que o mestre sabe. Saber o que ele sabe passa a ser uma forma de estar com ele. Aprendo porque amo, aprendo porque admiro. Sabendo o que ele sabe eu carrego a sua pasta, como o “mata-fome”, faço amor com ele.

Lamento dizer isso: tive poucos mestres que admirasse. Lembro-me de um que admiro até hoje, embora já se tenham passado mais de cinquenta anos: Leônidas Sobrinho Porto. Professor de literatura, nunca nos atormentou com informações sobre nomes e escolas literárias. Ele sabia que não aprenderíamos. Mas quando ele se punha a falar era como se estivesse possuído. Falava com tal paixão sobre as grandes obras literárias que era impossível não ser contagiado. Eu o admirava porque nele brilhava a beleza da literatura, queijo de que eu não gostava. Ele me fez amar a literatura.

A Da. Clotilde nos dá a lição de pedagogia: quem deseja o seio mas não pode prová-lo realiza o seu amor poeticamente, por metonímia: carrega a pasta e come mata-fome…

Rubem Alves

A importância em fazer as Crianças lerem.

Hoje em dia, tantas informações e tantos jogos e brinquedos interessantes e animados, como fazer as nossas crianças perceberem a importância de ler? Com tantos estímulos ao seu redor, como um livro pode concorrer?
Todos nos sabemos a importância da leitura e o mundo que os livros podem apresentar, e como a imaginação pode ser estimulada através do livro! E atualmente temos muitos livros que são escritos principalmente para as crianças e adolescentes.
Sabemos que o exemplo dos pais é um fator fundamental na educação das crianças. Portanto, num primeiro momento, se os filhos vêem seus pais lendo, eles provavelmente também se interessarão pelos livros. Então, vamos ler e mostrar a eles o prazer da leitura.
Desde pequenos, as crianças devem ser apresentadas aos livros, que devem ser coloridos, atraentes, divertidos e alegres. Os pais têm uma enorme responsabilidade em ler para os seus filhos antes de dormir, incentivando-os e aproveitando momentos gostosos através da leitura. O livro não deve ser uma obrigação e sim um prazer. Um dos problemas atuais nas escolas é sem duvida a escolha dos livros nas diversas séries. Às vezes, uma escolha mal feita leva o aluno a não gostar de ler. Por isso, é importante que a idade dos alunos seja respeitada e o gênero do livro seja condizente com seus interesses.
Outro fator importante é não forças os filhos a ler. A leitura pode se transformar em um problema por causa da obrigatoriedade. Talvez o melhor a fazer seja ir a uma livraria com eles, para escolherem juntos os livros a serem lidos. Pergunte a seus filhos o que eles gostam, quais os assuntos que eles interessam, e desde modo você estará conhecendo melhor sua personalidade e gostos.
Depois que seus filhos lerem o livro, sentem-se e conversem sobre o que ele mais gostou da história, quais os personagens favoritos, mas não façam disso uma prova de conhecimento! E sim uma conversa gostosa sobre os personagens e o que aconteceu na história. É uma forma de conhecer melhor os pensamentos e valores dos seus filhos, e conversar a respeito de assuntos que vocês achem importantes.
Se já é difícil fazer nossas crianças lerem em casa, na escola a tarefa fica ainda mais complicada. Os professores querem que a leitura seja algo prazeroso, mas parece não conhecer o que é prazeroso para seus alunos. Muitas vezes, vejo alunos que já estão lendo um livro e reclamam que precisam parar de lê-lo para ler o que o professor mandou, que não é tão agradável quanto ao que estavam lendo. Temos que saber qual é o nosso objetivo como professor, estimular a leitura ou obrigar os alunos a lerem para simplesmente “aprenderem” alguma coisa.
E aprenderem o que? Como professores, podemos fazer da leitura algo muito prazeroso ou algo muito obrigatório, que incomoda e tira a vontade dos alunos lerem. O que vamos escolher?
Eu diria aos professores para conhecerem seus alunos, a faixa etária, e procurarem saber do que eles gostam, pelo que eles se interessam. Um livro interessante é um convite à leitura!
Outro fator a ser levado em consideração é que os gostos e interesses são diferentes para meninos e meninas, portanto também isto deve ser discutido com os alunos. Em um mês, os meninos lerão um livro que as meninas escolherem, e no próximo mês, as meninas deverão ler o livro que os meninos escolherem. Colocá-los em grupo para que discutam o que gostaram e o que não gostaram pode fazer a reflexão ficar bastante interessante e profunda.
Em vez de provas sobre o livro, os professores podem realizar atividades mais dinâmicas como, por exemplo, dramatizar algumas partes do livro, ou contar a história do livro para as classes dos alunos menores (dependendo do assunto, é claro!).
Discussões em grupo, cartazes, teatro, ampliam a criatividade e o gosto pela leitura. Vale lembrar que muitos de nos, hoje leitores ativos e vorazes, não gostamos de ler quando crianças. Portanto, ainda temos esperança de ver nossos filhos e alunos lendo no futuro!
Como explicar o sucesso de um Harry Potter? Como explicar milhares de crianças e adolescentes lendo um livro por pura vontade de ler em um mundo em que impera o Orkut, Twitters e Facebooks? São exemplos como o de Harry Potter que nos fazem acreditar que as crianças vão continuar gostando de ler no futuro, enquanto existir criatividade e dedicação de muitos autores.
A vontade de ler existe em toda criança, cabe somente aos pais e professores saber guiá-la da maneira correta. Vamos acreditar na nossa habilidade de entusiasmar nossas crianças a ler! Mãos à obra!



Genival Ferreira de Miranda
Professor, Pedagogo e especialista em Língua e Literatura

EDUCAR BEM? DE QUEM É ESSE PAPEL?

Há um consenso na sociedade de que é importante educar bem. Mas, afinal, o que é educar bem? A resposta a esta pergunta parece simples, mas não é, pois envolve diferentes concepções do papel da escola, da sociedade e da família.
A família, seja ela tradicional ou não, é a principal responsável pela educação de uma criança. É na família que a criança aprende a dar e receber afeto, administrar a explosão de sentimentos, uma religião (ou a não ter religiões), hábitos de higiene e de ordem, compartilhar vivência e a língua materna (ou as línguas, em alguns casos). A maior parte dos aprendizados que ocorrem no contexto familiar se dá pela observação do que fazem os pais. Se os pais têm o habito de se ofenderem com palavras de baixo calão, a criança aprendera rapidamente a fazer o mesmo. Se, ao contrário, os pais vivem numa relação de mutuo respeito, a criança tenderá a reproduzir este respeito na relação com ele e com outras pessoas de sua convivência diária. Da mesma maneira, se os pais gastam o tempo livre na frente da televisão, não podem esperar que seus filhos aprendam a gostar de ler bons livros.
Mas há um aprendizado ainda mais importante que a família transmite: valores. É como os pais e demais familiares que aprendemos a valorizar o esforço e a ética, ou alternativamente a malandragem e a esperteza. Também aprendemos a ser generosos, a ter compaixão, ou a sermos gananciosos e autofocados.
No entanto, a educação não se restringe à família. A escola também tem importante papel, não apenas na formação de hábitos e na disseminação de valores, como no desenvolvimento de competências para a vida futura dos alunos como cidadãos profissionais. Assim, cabe à escola promover a capacidade de leitura e interpretação de textos, de comunicação escrita competente, de raciocínio matemática e deve instigar uma mente investigativa nos alunos, base para conhecimento e pesquisa cientifica. Ao mesmo tempo a escola deve repassar conhecimentos que garantam aos estudantes a compreensão do processo histórico, das ações e reflexões de seus personagens e pensadores, da localização dos acidentes geográficos, das comunidades humanas e suas atividades no planeta e também das leis que regem os fenômenos naturais. E o mais desafiador é garantir a ligação entre os saberes. É importante ensinar diferentes disciplinas. Mas é igualmente relevante mostrar os vínculos entre elas. Afinal, o mesmo ser humano que se questiona sobre o destino último de nossa condição está submetido a leis físicas, a uma herança histórica e aos condicionantes que sua geografia lhe impõe.
É papel da sociedade como um todo educar bem os seus cidadãos. Pensando em algumas recomendações que poderiam ser dadas a educadores, pais, crianças e jovens. Para os pais é muito importante ter em mente que a educação é tarefa prioritária da família e que ela ocorre não por discursos aos filhos, mas peã observação direta que eles fazem, no cotidiano, de nossas ações e dos valores que pautam nossas vidas. Aos educadores, deve-se desenvolver um espírito de profissionalismo e responsabilidade e, ao mesmo tempo, lembrar que o educador (diz Rubem Alves), é uma árvore frondosa que dá sombra e faz com que os alunos queiram ficar lá debaixo de seus galhos levantados para céu, enquanto as raízes buscam alimento. Encantar e instigar são as palavras chave.
Aos alunos, a proposta é saber que vocês são protagonistas dos seus sonhos. A família lhes ensina valores, a escola lhes da conhecimentos, mas vocês são portadores de sonhos de futuro e ninguém vai construí-los para vocês. Após receber uma boa educação, cabe a cada um construir sua vida e, com muito esforço e alguma sorte, ser gente da construção do futuro ou lamentar os insucessos ocorridos. Mas tudo começa com a formação de um sonho, seja ele qual for.
Mas o que é educar bem para um estado ou município? É investir com persistência na melhoria do ensino, com instrumentos adequados para aferir se as crianças estão aprendendo, incluir todos na escola, garantindo educação de qualidade para todos e para cada um. O mais importante para educação é a vivencia de bons valores, honestidade, respeito, caridade, compaixão e retidão. Os Sonhos ajudam a construir um mundo mais bonito!

Genival Ferreira de Miranda
Pedagogo
Diretor Adm. ONG Humanizar