Aristóteles fundamenta a tese
que “o homem é um animal social” dizendo que a união entre os homens é natural,
porque o homem é um ser naturalmente carente, que necessita de coisas e de
outras pessoas para alcançar a sua plenitude. Aristóteles afirma:
“As
primeiras uniões entre pessoas, oriundas de uma necessidade natural, são
aquelas entre seres incapazes de existir um sem o outro, ou seja, a união da
mulher e do homem para perpetuação da espécie (isto não é resultado de uma
escolha, mas nas criaturas humanas, tal como no outros animais e nas plantas,
há um impulso natural no sentido de querer deixar depois de individuo um outro
ser da mesma espécie).” (Política, I, 1252a e 1252b, 13-4)
Aristóteles faz a diferenciação entre dois tipos de espécies, as
gregárias (koinonia), e as solitárias (monadika), sendo que o
homem faz parte das duas espécies. As duas espécies são passiveis de uma nova
divisão, aquelas que são propensas há uma vida sociável (politika) e
aquelas que vivem de maneira esparsa (sporadika). O homem faz parte do
primeiro grupo (politika). Portanto, a sociabilidade faz parte da
natureza humana. Segundo Aristóteles:
“a cidade é uma criação natural, e
que o homem é por natureza uma animal social, e que é por natureza e não por
mero acidente, não fizesse parte de cidade alguma, seria desprezível ou estaria
acima da humanidade [...] Agora é evidente que o homem, muito mais que a abelha
ou outro animal gregário, é um animal social. Como costumamos dizer, a natureza
não faz nada sem um propósito, e o homem é o único entre os animais que tem o
dom da fala. Na verdade, a simples voz pode indicar a dor e o prazer, os outros
animais a possuem (sua natureza foi desenvolvida somente até o ponto de ter
sensações do que é doloroso ou agradável e externá-las entre si), mas a fala
tem a finalidade de indicar o conveniente e o nocivo, e portanto também o justo
e o injusto; a característica especifica do homem em comparação com os outros
animais é que somente ele tem o sentimento do bem e do mal, do justo e do
injusto e de outras qualidades morais, e é a comunidade de seres com tal
sentimento que constitui a família e a cidade.” (Política, I, 1253b, 15)
Assim, “a natureza social do homem se manifesta na linguagem, no dizer ou
no logos [...] O homem é o único animal que fala, e o falar é função social”
(MARÍAS 2004, 91). Assim em sociedade, o homem poderá realizar a sua potencia
mais elevada – vida política (politikon).
Pensando na definição de Aristóteles, posso dizer que o homem enquanto
ser social partilha de uma herança genética que o define como ser humano. A
nossa estrutura cerebral permite-nos desenvolver a linguagem e interpretar os
estímulos provenientes do meio. É na
capacidade de o ser humano se adaptar ao meio e de transmitir ás gerações
seguintes as suas conquistas, é na sua capacidade de aprender que reside a
linha que distingue o ser humano do animal. O homem só se realiza como Pessoa
na relação com os outros, relação essa que tem vários níveis e assume múltiplas
formas: universalidade; sociabilidade e intimidade. Ao nível da
intimidade a pessoa encara-se como um ser dotado de uma consciencia de si,
baseada na racionalidade e nas emoções que, embora seja individual e interior,
só se constroi com base em relações significativas com outros seres humanos... Ao
nível da sociabilidade a pessoa encontra-se como membro de uma sociedade
organizada, necessitando de passar por um longo processo de socialização até
que possa assumir-se como um membro ativo da sociedade a que pertence.
Não se pode dizer que a sociedade é uma mera soma de individuos, uma vez que
cada individuo é, em si mesmo, um produto da cultura da sociedade a que
pertence.
Sendo assim, podemos dizer que ninguém
gosta de viver só, vivemos em busca de um ideal de felicidade que só pode ser
encontrado na coletividade, por exemplo: como podemos ser felizes se não
podemos compartilhar a felicidade com outras pessoas? Possuem-se bens materiais
de grande valor para quem vou mostrar? Todos tem necessidade da companhia de
outras pessoas. Podemos, por algum tempo viver isolados, mas não por muito
tempo. Por isso como Aristóteles define, viver em sociedade constitui uma característica
fundamental da pessoa humana. Já na idade da pedra, os homens se reuniam para
caçar e descobrir um modo de sobreviver. Podemos observar que o homem em grupo
pode se organizar e se fortalecer para enfrentar as vicissitudes da vida,
percebe-se que o homem não viveria por muito tempo de forma isolada.
O escritor italiano Umberto Paolo
Quintavalle é autor de um conto intitulado “As Quatro Drogas de Robinson Crusoé”. O personagem desse conto tem
uma grande tendência para viver isolado. Naufrago, passa a viver numa ilha de
fauna e vegetação abundantes, mas não habitada pelo homem. Goza de algum
conforto: alimentação farta e quase nenhum trabalho. Mas seus únicos
companheiros são pequenos macacos e cabras afáveis. Quando já velho, pressente
a morte e lamenta: “Preferiria a miséria, a falta de bens materiais, desde que tivesse
comigo um único ser humano. Não precisaria toca-lo: já me bastaria vê-lo. Hoje
sei que a solidão é horrível. Não existe miséria pior que estar só”.